terça-feira, 29 de julho de 2008

Ler Nietzsche é instalar o caos dentro de si: desçam ao play interno, crianças.

E se foi Nietzsche quem trouxe o caos...






"A Genealogia da Moral é um questionamento não somente das origens da moralidade na história do homem, mas também de sua aplicação em todos os atos do ser humano. O binômio bem e mal, bom e mau surge de alguma maneira por influência de interesses. Quais seriam esse interesses? Aqueles de um poder dominante? Aqueles de uma classe que se considera superior, para estabelecer e expandir seu domínio sobre outra, classificada como inferior?
A falta, o pecado, o erro, enfim, seriam decorrência realmente de uma má ação ou de um conceito que procurou inserir no pensamento humano um sentido do que é bom em si e, em decorrência, de algo que em contraposição, é mau? O bom e o mau como atos existem em si como consequência da existência de uma consciência boa e de uma consciência má ou seriam simplesmente figuras inventadas pelos espíritos que se consideram superiores para poder escravizar os espíritos inferiores?
Não teria sido em consequência dessa vontade de poder de alguns que foram inventados os conceitos de falta, de pecado? Em outras palavras, a moral como classificação de tudo aquilo que representa o bom e de tudo aquilo que representa o mau não parece significar senão um poder que pretende se impor em detrimento dos mais fracos, dos espíritos inábeis, daqueles que necessitam ser guiados ao percorrer o caminho da vida, ao trilhar as sendas da vida que possam conduzir a um bem-estar, a uma alegria sofrível de viver ou a uma felicidade plena.
O ideal de ascese, de repressão das paixões e dos sentimentos menos nobres, não passaria de uma manipulação dos mais fortes para exercer seu domínio sobre os mais fracos, inventando uma religião e um estilo de vida capazes de reprimir o erro, a falta, o pecado, em nome de uma felicidade futura, situada num além inatingível neste mundo, mas fixado como prêmio no outro.
Para conseguir inculcar no homem todos esses princípios fabricados a partir de uma vontade de poder de alguns, surge a moral, que distingue não-valores de valores ou a inexistência de valores diante daquilo que deve ser realmente considerado e tido como valor. A todos os conceitos que envolvem esses elementos de vida, de busca por um sentido da vida, são aferidos valores morais ou uma moralidade. Mas por quem? Por quem tem verdadeiramente autoridade para isso? Ou por quem quer simplesmente dominar os outros, seja por meio de princípios físicos, psicológicos, religiosos?
A Genealogia da Moral procura responder a todos esses questionamentos de uma forma direta, forte, contundente, bem ao estilo de Nietzsche".

Apresentação do livro que tenho em mãos no momento, A Genealogia da Moral do famoso filósofo alemão citado acima.

Na verdade, muito do meu raciocínio do post anterior foi fomentado por este livro que nem ao menos terminei de ler. Nietzsche foi um puta cérebro, mas a grande questão não consiste em apenas admira-lo e muito menos absorver suas palavras como a mais certa. O filósofo incita e aponta o que homem esqueceu há tempos. O segredo certamente está na dúvida, ou melhor, na vontade eterna do pensamento, do conhecimento.

Devo aqui insistir em um pequeno trecho já escrito acima:

"Em outras palavras, a moral como classificação de tudo aquilo que representa o bom e de tudo aquilo que representa o mau não parece significar senão um poder que pretende se impor em detrimento dos mais fracos, dos espíritos inábeis, daqueles que necessitam ser guiados ao percorrer o caminho da vida, ao trilhar as sendas da vida que possam conduzir a um bem-estar, a uma alegria sofrível de viver ou a uma felicidade plena."

Ainda com Nietzsche finalizo:

" - Quanta verdade pode um espírito suportar, quanto pode arriscar um espírito? Isso foi se convertendo cada vez mais pra mim no verdadeiro critério do valor. O erro (a crença no ideal) não é cegueira, o erro é covardia...Cada conquista, cada passo em frente no conhecimento é consequência da coragem, da dureza consigo mesmo, da limpeza para consigo...Não refuto os ideais, calço simplesmente luvas perante eles... "Nitimur in Vetitum"¹: sob este signo minha filosofia há de vencer um dia, porque até agora a única coisa que foi proibida sempre, por princípio, foi a verdade"


¹ Nitimur in Vetitum : Expressão latina que significa "Lançamo-nos em direção ao proibido".


Pequeno trecho do livro Ecce Homo.

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